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Este estudo consiste numa tese de mestrado e a escolha do tema de investigação baseia-se, fundamentalmente, no desejo de aprofundar a problemática do risco psicossocial na infância através do discurso das próprias crianças acedendo, para isso, às suas vivências, representações e significados.
A investigação tem como objetivo principal perceber que representações sociais têm as crianças em relação ao conceito de família e de risco psicossocial.
Neste contexto, a vontade de dar “voz” à criança levou a investigadora a adotar uma abordagem de carácter qualitativo, sendo que o design metodológico utilizado é o estudo de caso porque se pretende conhecer com maior profundidade as representações sociais de um grupo de crianças sobre a família e o risco psicossocial. Assim, partindo do pressuposto de que as crianças são atores sociais competentes para a interpretação da realidade social em que se inserem, tentou-se, segundo a sua perspetiva, compreender quais são as faces do risco no espaço familiar considerando a sua prática e experiência tentando, ainda, por um lado, perceber como se posicionam perante as práticas parentais utilizadas na família e por outro, perceber se apesar de serem crianças inseridas em contextos de risco/perigo, devidamente identificadas, se isso influencia a sua perceção sobre o conceito de família. O estudo baseia-se na realização de entrevistas semiestruturadas e elaboração de desenhos por considerarmos que estas ferramentas metodológicas respeitam os principais princípios e questões éticas num processo de investigação com crianças.
No primeiro capítulo apresentamos um quadro de referência teórico sobre quatro temas que servem de base à investigação: enquadramento socio - histórico da família; o conceito de infância; o risco psicossocial; entidades e instrumentos jurídicos que detêm plena legitimidade para promover os direitos e proteger as crianças/jovens. No segundo capítulo, o enquadramento metodológico, serão apresentados os objetivos, gerais e específico da investigação bem como as principais questões que servem de fio condutor para a mesma. Por fim o terceiro capítulo desta dissertação apresenta a análise e discussão dos dados coletados.
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Perante uma criança em risco, a intervenção imediata na remoção deste mesmo risco constitui um imperativo ético, deste modo, esta investigação propõe a todos aqueles que trabalham na area da infância, refletir sobre as crianças e jovens em risco a partir da sua própria voz.
Hoje em dia, a noção de risco na infância é frequentemente referida, apesar de não ser clara, tanto no que se refere à sua origem, como ao seu conteúdo e contornos. Assim, esta investigação permite a todos os profissionais que trabalham com crianças refletir sobre o conceito de risco psicossocial segundo uma perspetiva ecológica que assinala a diversidade de fontes responsáveis por esta problemática, colocando em relevo a interação de múltiplos fatores.
Sobre a relevância social desta pesquisa entendemos que as questões relativas aos direitos das crianças, nomeadamente, como estes se traduzem, ou não, nos seus quotidianos, assumem-se cada vez com mais persistência e pertinência nas agendas políticas o que tem, também, incentivado o investimento na investigação com crianças de risco levando-se cada vez mais longe este campo do conhecimento.
Não são raras as vezes que, na nossa prática profissional somos confrontados diariamente com a problemática das crianças e jovens em risco e da falta de cuidados de que as crianças são vítimas por parte das suas famílias. Por tudo isto, esta investigação pretende reforçar a necessidade de escutarmos e dedicarmos mais tempo às crianças em situação de risco para que, através do estudo das suas experiências, possamos compreender melhor os diversos fenómenos sociais que lhes dizem respeito e para que se possa sustentar não só as diversas formas de prevenção mas também o despiste, a avaliação, o diagnóstico e a intervenção no âmbito das medidas de promoção e proteção, indo ao encontro das necessidades das crianças e suas famílias.
Esta investigação tem, ainda, a vantagem de recorrer a diversas áreas do saber como a sociologia da infância, a sociologia da família, a psicologia social, e a área jurídica por forma a obtermos uma imagem o mais completa possível da temática abordada.
Esta investigação mostra-nos que os investigadores precisam de assumir uma postura de descoberta, pois o mundo infantil está repleto de dúvidas e incertezas e se não abrirmos a nossa capacidade criativa e de escuta ativa a esse universo de possibilidades, se formos para o terreno a acreditar que já sabemos tudo o que queremos é o mesmo que ignorarmos por completo a realidade vivida pelas crianças bem como as suas representações acerca dessa mesma realidade.