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A mediação intercultural e a construção de diálogos entre diferentes: notas soltas para reflexão

Casa-Nova, Maria José

Instituto de Educação, Universidade do Minho

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Integration of immigrants students

Trata-se de um comentário ao painel “Mediação intercultural” no âmbito do seminário “A mediação intercultural e a construção de diálogos entre diferentes: notas soltas para reflexão”.
A autora reflete a partir da sua experiência enquanto investigadora de grupos minoritários - no caso específico, o grupo sociocultural cigano português - e enquanto investigadora na área da educação intercultural. Desta forma, começa por abordar o conceito de mediador(a) referindo que o mediador é alguém que se situa entre ou dentro de dois (ou mais) sistemas culturais diferenciados ou diferentes lógicas de atuação face a uma mesma situação. A investigadora refere que quando os diferentes atores sociais se encontram perante situações que escapam ao seu domínio pelo desconhecimento dos códigos de leitura das mesmas, desenvolvem um processo no sentido de buscar significado para essas situações dentro do seu próprio repertorio de valores, re-codificando essa situação, no sentido de possibilitar a sua inteligibilidade e, eventualmente, o diálogo. Ora, quando tal não acontece, por diversas razões, as interpretações criadas irão constituir uma barreira ao diálogo, acabando frequentemente em conflito. É neste sentido que a mediação irá permitir a remediação de conflitos bem como a sua prevenção que irá implica a capacidade de antecipar, de prever bem como de um conhecimento reflexivo sobre a realidade, sobre os contextos sociais de atuação. Outra dimensão importante da mediação diz respeito à autonomização dos atores e construção de poder. Isto, para que se possam promover processos de aprendizagem potenciadores de uma auto-resolução e auto-prevenção por parte dos “mediados” para que desenvolvam competências por forma a lidarem com os conflitos de forma positiva.
A investigadora refere, ainda, como faz mediação, relatando situações concretas nas quais foi chamada a mediar. Dá-nos um exemplo sobre um grupo sociocultural cigano português que, por imposição camarária, encontra-se presentemente a terminar um processo de realojamento que tem levado à sua dispersão por diversos Bairros de habitação social da cidade do Porto.
Refere que o processo de realojamento não foi isento de conflito afirmando que o desconhecimento e/ou incompreensão dos códigos linguísticos e de leitura do real estão frequentemente na origem de monólogos paralelos entre cultura maioritária e cultura cigana. Contudo, a intervenção da investigadora como mediadora neste processo de ‘tradução cultural’ permitiu a algumas destas famílias a descodificação dos códigos de leitura da realidade dos sujeitos-atores pertencentes à cultura maioritária. Desta forma, conhecer para compreender, compreender para mediar, mediar para tornar possível a construção de diálogos ou de uma vivência não conflitual são as condições fundamentais para alcançar o sucesso nestas situações.

Escolhemos este documento porque consideramos ser de alguma importância para quem trabalha em ambientes escolares caracterizados por uma forte componente inter ou multicultural.
É um facto que o conflito tem estado presente na nossa sociedade ao longo dos tempos, seja de forma direta, seja através da violência estrutural e cultural a que temos vindo a assistir.
Esta é uma realidade à qual as Escolas em geral não escapam e que tem vindo a afetar o seu funcionamento harmonioso.
Num mundo cada vez mais global, onde a sociedade de informação é uma realidade, importa olhar a escola e as relações que nela se desenvolvem sob um novo prisma. O conflito, nomeadamente o conflito em contexto escolar, é uma realidade incontornável e intrínseca do nosso quotidiano que assume uma inegável pertinência e atualidade no contexto educativo português. A Escola é uma organização com fins específicos e que se pode considerar, de certa forma, um protótipo da sociedade.
Pessoas com diferentes vivências, personalidade, valores, perspetivas, culturas e interesses co-partilham o mesmo espaço, coexistindo num ambiente onde também o conflito se faz sentir nas diferentes relações existentes. É aqui que pretendemos chamar a atenção de professores e diretores de escolas para a importância que a mediação pode assumir na resolução destes conflitos em que um terceiro, neutro e imparcial, auxilia os indivíduos a comunicar, a negociar a alcançar compromissos mutuamente satisfatórios no sentido de melhorar a qualidade da educação e aumentar o sucesso escolar.
É na escola que as diferentes formas de educação e valores familiares, culturas, etnias, religiões etc. se encontram. Neste sentido, uma importante parte da função social da escola será ensinar a conviver em grupo, e entre grupos mediando determinadas situações que possam surgir.
A Escola pode, desta forma, usar a mediação como uma estratégia para a transformação criativa dos conflitos, encarando-a como um potencial educativo e de formação pessoal para a resolução dos problemas da vida, atuais e futuros de todos os alunos.

Catarina Louro

Instituto Politécnico de Castelo Branco

Junior researcher